25.6.14

Continuar a continuar

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Estou prestes a licenciar-me na arte de desenrascar trabalhos à pressa enquanto durmo pouco e acumulo listas de coisas realmente interessantes que preferia estar a fazer anotadas em bocados de papel que perco em gavetas e nos bolsos das calças. Variante de Design de Comunicação. Mas não tenciono exercer.

Agora já acabei (faltam-me só dois trabalhos/exames que ainda vou ter de fazer em Setembro) e estou, desde ontem, a habituar-me ao facto de poder escolher que livro ler ou que filme ver, mas andei os últimos dias ansioso por acabar os trabalhos todos que tinha para entregar. Apesar disso, adiei quase sempre essa aflição porque não entreguei um único trabalho dentro do prazo mas fiz todos os possíveis para fazer com que cada um se tornasse um bocado mais interessante e útil não só para mim mas também para as pessoas que vão olhar para ele. Mete-me impressão não haver respeito pelo tempo que as coisas precisam para serem bem feitas, assim como me mete impressão fazer coisas mal feitas, repetidas ou desinteressantes com o único propósito de cumprir prazos.

É uma tristeza ver trabalhos feitos na faculdade e perceber que aquilo para além de não interessar aos próprios alunos, muitas vezes também não tem grande interesse para os professores que se limitam a avaliar dezenas de trabalhos repetidos por pessoas que não sabem muito bem o que estão a fazer porque nunca têm tempo suficiente para o aprender. Ano após ano, produz-se uma quantidade absurda de trabalhos que não acrescentam nada a discurso nenhum e que servem apenas para ir oleando uma rotina estúpida que se dedica simplesmente a cumprir todo e qualquer prazo que lhe é apresentado. É um autêntico desperdício de energia, de tempo e de recursos.

A realidade para a qual a faculdade me tenta preparar é aquela da qual eu não quero ser cúmplice. "É a realidade que existe e nós temos é de nos adaptar a ela". Errado. Se é a realidade que existe, nós temos é de a pôr em causa e de perguntar: é isto que é bom e justo? Em vez de me adaptar à realidade, devo adaptar a realidade àquilo que eu acredito que ela deveria ser. A realidade não é simplesmente uma coisa que existe, ela é sempre uma construção para a qual contribui, por exemplo, a forma como o ensino superior prepara os seus alunos. Neste caso, preparando-os para nela se encaixarem, perpetuando os seus vícios e defeitos como se fossem naturais ou inevitáveis e sobre eles não houvesse nada para pensar.

Há uns dias descobri esta música e achei que daria um bom hino para o ensino superior, sobretudo por incluir o seu lema perfeito no verso "you got to keep on keeping on". A propósito desse lema, lembrei-me depois deste sketch antigo dos Gato Fedorento. Ninguém sabe ao certo o que está a fazer, mas todos sabem que têm de continuar a continuar a fazê-lo, para o bem do mundo real, do mercado, do empreendedorismo ou do caralho que o foda.