22.5.13

Uma tarde na faculdade

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Ultimamente tenho-me dedicado bastante a tentar perceber a verdadeira utilidade do curso que estou a tirar e as conclusões a que tenho chegado em conversa com vários colegas não têm sido muito animadoras. O sentimento permanente de cansaço, provocado pelo malabarismo que somos obrigados a fazer com todos os trabalhos que nos põem nas mãos, é geral e aquilo que fica de todo esse esforço não costuma ser, por semestre, mais do que uma dúzia de trabalhos resolvidos à pressa nos quais há sempre qualquer coisa por melhorar. Hoje saí da faculdade a pensar novamente nestes assuntos, mas desta vez foi porque algo diferente aconteceu.

A propósito das Unneeded Conversations, ocupei a minha tarde com uma masterclass dirigida por André Príncipe e José Pedro Cortes, autores e editores da Pierre Von Kleist, e com uma apresentação do realizador João Botelho. Estas coisas que acontecem muito de vez em quando sabem sempre bem porque nos tiram da rotina castradora das aulas e nos colocam de repente no meio de conversas que nos dão mais vontade de trabalhar!

Se num momento estava a ouvir os fotógrafos da Pierre Von Kleist dizer que faziam questão de manter o layout dos seus livros o mais simples possível de forma a não interferir na leitura das imagens, comparando isso à montagem de um filme que muitas vezes se quer que seja invisível para que a história que é contada pareça tão real que nós nos esquecemos que aquele é o Robert de Niro, que já vimos noutro filme com outro disfarce, e que o Travis Bickle do Taxi Driver não existe; pouco depois estava a assistir ao discurso de João Botelho defendendo que tudo o que o cinema tem para mostrar são mentiras e que com os seus filmes não lhe interessa enganar as pessoas e que por isso quer deixar bem claro para os espectadores que aquilo que estão a ver não é real.

Muitas outras questões foram levantadas em ambos os momentos da tarde e muitas outras discussões podiam surgir, mas eu nem me vou estender mais em relação a isso. De repente, a minha cabeça estava a tentar resolver este problema de intenções tendo em conta a minha própria prática e a tentar entender que relação é que alguns dos meus trabalhos, já concluídos, procuram estabelecer com os seus leitores/espectadores. Este é o tipo de questões que passam ao lado de quem, dia após dia, está demasiado ocupado a tentar safar os trabalhos que estão atrasados e não tem tempo sequer para parar um bocado para ler ou estudar qualquer coisa.

No fundo, aquilo que se pede a um estudante universitário como eu é quase o mesmo que se pede a um telespectador do horário nobre da televisão portuguesa: que em vez de ver um bom filme, se entretenha com três ou quatro novelas que se repetem constantemente, que não surpreendem, que não mostram nada de novo. E não interessa muito se se perde umas quantas cenas porque o que interessa é não ficar para trás e no final, de uma maneira ou de outra, não é muito relevante saber-se o que aconteceu naqueles bocados que perdemos. Mas agora imaginemos que cada novela é falada numa língua diferente e que algumas são tão estranhas que uma pessoa só consegue perceber o que se está a passar pelas caras e pelos gestos dos actores.